A eleição do embaixador brasileiro Roberto Azevêdo para a direção geral da Organização Mundial do Comércio (OMC) é uma vitória do terceiro-mundismo defendido pelo governo desde o reinado de Lula.
Para ganhar o pleito, Azevêdo teve o apoio decisivo dos regimes autocráticos do Oriente Médio, da China, da Rússia, de Cuba, da África e de republiquetas de bananas, que respondem por uma fração insignificante do comércio global, mas tem poder de voto na entidade igual ao de grandes mercados como EUA, Europa e Japão. Não por acaso sua eleição foi recebida com entusiasmo em Brasília e vista como um sinal de aprovação à política Sul-Sul do petismo, capitaneada pelo assessor especial da presidência da República, Marco Aurélio Garcia, com a vassalagem do Itamaraty.
Embora a candidatura do diplomata brasileiro não tenha sido encampada desde o princípio pelo governo, acabou seduzindo a presidente Dilma Rousseff, pela possibilidade de influenciar as decisões da entidade, no momento em que o Brasil está sendo formalmente acusado pelos países desenvolvidos, que apoiaram o mexicano Hermínio Blanco, de adotar medidas comerciais “discriminatórias”, como o aumento de impostos dos importados e a “desoneração” de produtos nacionais.
Azevêdo, que durante sua campanha adotou um discurso de distanciamento do governo brasileiro, garante que lutará contra o aumento do protecionismo e zelará pelos interesses do comércio global e não pelos interesses específicos do Brasil. Mas o apoio que ele recebeu de Dilma e do Itamaraty deixa um ponto de interrogação em relação a suas reais intenções à frente da OMC. Afinal, em seus dois anos no Palácio do Planalto, Dilma fez do protecionismo uma política de Estado, apesar das negativas oficiais, e adotou um número recorde de medidas contra os produtos importados, para beneficiar a ineficiente indústria brasileira e seus controladores.
Como revelou o colunista de ÉPOCA Felipe Patury, a candidatura de Azevêdo nasceu na Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), templo do protecionismo nacional que jamais levantou a bandeira do livre comércio como forma de promover o desenvolvimento do país.
A julgar por seus aliados e patrocinadores no Brasil e no exterior, a gestão de Azevêdo na OMC, em substituição ao francês Pascal Lamy, poderá legitimar políticas espúrias de cerceamento do livre comércio, como a implementada por Dilma no Brasil, com a chancela da Fiesp, e manchar a reputação de uma das mais respeitadas entidades multilaterais do planeta.
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