O economista e jornalista britânico Martin Wolf, principal comentarista e editor adjunto do jornal Financial Times, é uma das vozes mais influentes da economia internacional. Conhecido por suas posições liberais, em 2008 ele apoiou de forma entusiasmada os pacotes governamentais bilionários para conter a crise. “Somos todos keynesianos agora”, disse então, em referência ao economista John Maynard Keynes (1883-1946), o grande defensor de medidas fiscais para estimular a economia. Antes de chegar ao Brasil para dar duas palestras em São Paulo nesta semana, a convite do Instituto Fernando Henrique Cardoso e da BM&F Bovespa, Wolf falou a ÉPOCA sobre o futuro da economia, o aumento dos gastos do Estado e o papel de países emergentes como o Brasil e a China.
ÉPOCA – O senhor acredita que a crise econômica global acabou? O crescimento voltou para ficar?
Martin Wolf – Depende do que você quer dizer com “acabou” e com “crescimento”. O pânico financeiro passou. O sistema financeiro recuperou, em certa medida, sua saúde – e não espero que isso mude, a não ser que haja uma hecatombe. A economia mundial está crescendo, principalmente nos mercados emergentes. Mas, se nós definirmos a crise de forma mais ampla, incluindo a longa fase de ajuste que se seguiu, em especial nos países desenvolvidos, podemos dizer que estamos muito longe de um retorno pleno à saúde econômica. A recessão pode estar superada do ponto de vista técnico. Mas ainda há muita gente altamente endividada, nos Estados Unidos, no Reino Unido e em outros países. O desequilíbrio fiscal – déficits orçamentários e dívidas públicas crescentes – é preocupante. Apesar de a política monetária estar muito agressiva, com juros muito baixos, a retomada da economia está muito fraca. Nos países desenvolvidos, o crescimento está bem abaixo do de 2008. O desemprego ainda está muito alto, em particular nos EUA. Considerando tudo, o mundo desenvolvido está a anos de distância de uma retomada plena da economia.
ÉPOCA – Como deverá ser o desempenho da economia global em 2011?
Wolf – Não sou futurólogo e não costumo fazer previsões. Elas sempre acabam por fazer a gente parecer ridículo. A crise financeira que ocorreu na Grécia no final de 2009 não era esperada. Considerando isso, é provável que os países desenvolvidos cresçam abaixo da média no ano que vem. Espero que os países emergentes tenham um crescimento mais acelerado. Mas há muita incerteza no momento: novas crises na Europa, onde está havendo a maior parte das reestruturações de dívidas soberanas, e novos conflitos cambiais, em especial entre os Estados Unidos e a China. Fora isso, com a tendência de os governos apertarem a política fiscal, para manter as contas públicas sob relativo controle, há também o risco de o setor privado nos países desenvolvidos não decolar. É possível, por outro lado, que em países com uma poupança relativamente forte, como Japão e Alemanha, a população comece a gastar. Vamos ter de pagar para ver.
ÉPOCA – Os países emergentes, como o Brasil e a China, continuarão a puxar o crescimento global?
Wolf – Acho que esses países continuarão a crescer de forma acelerada. Mas suas economias não são grandes ou dinâmicas o suficiente para levar o mundo junto. Esses países deverão gerar crescimento para si e para aqueles com quem têm uma relação comercial próxima. Agora, se continuarem a crescer rapidamente, deverão ter um impacto positivo na economia global.
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