Davos – O Fórum Econômico Mundial, realizado todo mês de janeiro em Davos, uma pequena cidade dos Alpes suíços, tornou-se conhecido como uma das principais trincheiras de defesa do capitalismo de livre mercado e da globalização desde sua criação, em 1971. Não por acaso, os movimentos de esquerda, que haviam perdido a referência com a queda do comunismo no início da década de 1990, decidiram criar, sob a liderança do PT brasileiro, o Fórum Social Mundial, em Porto Alegre, em 2001, para servir de contraponto a Davos.
Pelas características antagônicas dos dois eventos, pensava-se até pouco tempo atrás que eles seriam como água e óleo. Mas, nos últimos anos, desde a crise financeira que abalou o mundo em 2008, as ideias liberais que fizeram a fama de Davos têm se tornado cada vez menos relevantes nos debates – e, no encontro deste ano, na semana passada, não foi diferente. Em muitas sessões, um observador desavisado teria a impressão de ter entrado no Fórum Social (que acontecerá em fevereiro, em Dacar, no Senegal), e não no templo da livre-iniciativa global.
Houve até uma palestra sobre o “teatro do oprimido”, do dramaturgo Augusto Boal
Embora o Fórum de Davos continue a atrair a elite política e econômica internacional, principalmente dos países desenvolvidos, a agenda do encontro, batizado com o indecifrável título Normas Compartilhadas para a Nova Realidade, parecia a plataforma de uma Organização Não Governamental ambientalista ou de apoio ao desenvolvimento de cidadãos socialmente responsáveis. A própria expressão “nova realidade” era um sinal da mudança na filosofia do encontro. O programa deste ano ainda incluía painéis para a discussão de temas como o aumento do capitalismo de Estado no mundo, a recuperação do sistema financeiro e o futuro da indústria. Mas as sessões voltadas para a análise de questões consideradas politicamente corretas, como a inclusão social, o aquecimento global, a preservação ambiental, a ética nos negócios e a corrupção, dominaram o evento. Dezenas de empreendedores sociais que desenvolvem trabalhos em campos como saúde, educação ou energia participaram do encontro. Houve até uma palestra sobre o “teatro do oprimido”, do dramaturgo brasileiro Augusto Boal, morto em 2009. “Nunca imaginei que um dia seria convidado para dar uma palestra em Davos”, afirmou Brent Blair, professor de arte dramática da Universidade do Sul da Califórnia, na fila do almoço.
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