Os olhos do carioca Rodrigo Baggio brilham quando ele fala de sua obra. Aos 39 anos, Baggio é o fundador do Comitê para Democratização da Informática (CDI), a primeira organização não-governamental (ONG) brasileira a oferecer treinamento em computação a comunidades de baixa renda. Em velocidade acelerada, ele enumera suas conquistas, uma a uma, durante um jantar realizado a convite de ÉPOCA, em meados de maio, numa churrascaria de São Paulo. Entre uma fatia de picanha, um pedaço de contrafilé argentino e um gole de Julio Bouchon Cabernet Sauvignon Reserva 2004, um vinho chileno de R$ 70 que ele mesmo escolheu, Baggio quase não abre espaço para o diálogo. Em alguns momentos, chega a ser enfadonho ouvir seu discurso de auto-exaltação. Mas Baggio tem bons motivos para se vangloriar de seus feitos. Ele conseguiu crescer e prosperar como poucos no setor social. Fez do CDI uma das ONGs mais bem-sucedidas do país. Do nada, Baggio construiu uma verdadeira multinacional brasileira do setor social, hoje presente em mais sete países da América Latina e com bases de apoio nos Estados Unidos e na Inglaterra. Seu plano agora é entrar na África, para ensinar computação em lugares em que, muitas vezes, a população não tem sequer o que comer. “É preciso acreditar no sonho, lutar para transformá-lo em realidade”, diz Baggio.
Com orçamento de quase R$ 5 milhões em 2008, fruto de doações feitas por dez empresas, como Microsoft e Vale, o CDI pode ser considerado um empreendimento de médio porte para os padrões brasileiros. Desde sua fundação, em 1995, o CDI já treinou, segundo Baggio, cerca de 1 milhão de pessoas em favelas e na periferia das grandes cidades para usar os principais programas de computador e a internet. Para atingir essa marca, Baggio ergueu uma rede de ensino composta de 753 centros de treinamento, batizados Escolas de Informática e Cidadania (EICs) – 554 no Brasil, espalhados por 21 Estados, e 199 no exterior. As unidades funcionam como uma espécie de franquia social, sem fins lucrativos, com relativa autonomia de gestão. Têm até receita própria, gerada pela cobrança de mensalidades de R$ 10, em média, por aluno. A maior parte dessa receita é aplicada no pagamento dos 1.464 professores da rede. Os cursos têm duração de 60 horas-aula, em média, e adotam uma pedagogia inspirada na teoria do educador Paulo Freire, voltada para a “conscientização” dos alunos sobre sua condição social e a realidade em que vivem. “A missão do CDI é investir na capacitação das comunidades, principalmente dos jovens, para diminuir o nível de exclusão a que eles estão submetidos”, afirma Baggio.
Apesar de contar com o apoio de 1.069 voluntários, a administração central é feita por trabalhadores assalariados, entre eles alguns profissionais que deixaram carreiras de sucesso no setor privado para se unir à ONG de Baggio (leia a reportagem sobre carreira em ONGs). Ao todo, são 150 funcionários administrativos com registro em carteira. Só o pagamento da folha de pagamentos consome R$ 160 mil por mês, incluindo o pró-labore do próprio Baggio, que recebe R$ 13 mil como diretor-executivo do CDI. “Acredito que, se atuasse no mundo dos negócios, poderia ganhar muito mais”, diz. “Mas certamente não estaria tão feliz e realizado quanto estou hoje.”
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