A Lei de Newton e o “ódio” ao PT Ao contrário do que diz o ministro Gilberto Carvalho, o PT deve buscar em suas próprias práticas a razão de seus problemas, em vez de atribuí-los à intolerância dos adversários e da "zelite"

A atual campanha eleitoral está deixando os caciques do PT e a tropa de choque do partido desnorteados. Eles simplesmente não conseguem entender – provavelmente porque não querem, mesmo – a rejeição demonstrada por uma parcela significativa da sociedade pela presidente Dilma, pelo partido e por suas práticas políticas.

Ainda que consiga vencer o segundo turno no dia próximo dia 26, o PT sairá do pleito bem menor do que entrou. Não apenas em termos de força política, por conta da redução significativa de suas bancadas no plano federal e nos principais estados do país, mas também pelos arranhões definitivos sofridos em sua imagem, com a divulgação das denúncias do Petrolão. Se havia restado alguma reserva moral ao PT depois do Mensalão e de outros escândalos nos quais o partido se envolveu desde que assumiu o poder, em 2002, ela praticamente se esgotou agora.

Como sempre, os dirigentes petistas preferem recorrer a teorias conspiratórias para explicar os fatos e atribuir o desgaste enfrentado por Dilma e pelo PT ao “ódio” pregado pelos adversários contra eles. Ontem, coube ao ministro chefe da Secretaria Geral da Presidência, Gilberto Carvalho, que adocica os movimentos sociais aparelhados pelo PT com a promessa de benesses de todos os tipos, expressar a surpresa do partido com a situação.

“Atravessamos um momento delicadíssimo da nossa campanha”, disse Carvalho, reconhecendo o óbvio, durante encontro com ongueiros e sindicalistas em Pernambuco. “Plantou-se um ódio enorme em relação a nós. Eu não sei o que foi aquilo. Em São Paulo, estava muito difícil andar com o broche ou a bandeira da Dilma. Em Brasília, a cidade estava amarela, sem vermelho. O ódio tem sido construído com a gente sendo chamado de ladrão. Com frequência, a gente vem sendo chamado com desprezo. Estamos sendo chamados de um grupo de petralhas que assaltaram o governo.”

Do jeito que Carvalho fala, até poderia parecer, para quem não os conhece bem, que ele e outros dirigentes petistas desceram diretamente do reino dos céus para enfrentar a barbárie romana aqui na Terra. Ele se esquece – ou faz de conta que se esquece – de que foi Lula e seus correligionários que dividiram o Brasil entre “nós” e “eles” nos últimos anos, como se houvesse brasileiros de segunda classe que merecessem se transformar em alvo da artilharia petista. Foram eles que procuraram opor o povo à “zelite”, insuflando o ódio de classe no país, como se dezenas de milhões de cidadãos que não comungam das ideias e práticas petistas estivessem todos abrigados no topo da pirâmide econômica e social. Como diz Marina Silva, candidata derrotada à presidência, o povo – ao menos uma parcela considerável dele – cansou desse discurso: “É hora de governar unindo o Brasil, e não apartando o Brasil”.

Como bom sociólogo de gabinete – lá em Brasília, de preferência, com muita mordomia – Carvalho deveria conhecer as Leis de Newton – ou ao menos ter ouvido falar delas. Uma das principais diz que toda ação gera uma reação, da mesma magnitude. Depois de tomar tanta paulada, é até natural que a oposição ao PT tenha se encorpado e descoberto as melhores táticas para enfrentar o vale tudo praticado pelo partido. Agora, daí a dizer que a oposição e os adversários do partido estão pregando o “ódio” ao PT vai uma longa distância. Para Carvalho e seus correligionários petistas, é mais fácil atribuir aos outros aquilo que incomoda, em vez de buscar neles mesmos as razões de seus problemas.