A eleição do empresário Horacio Cartes, do Partido Colorado, de centro-direita, para a presidência do Paraguai tem um significado que vai muito além da derrota de seus principais adversários – Efraín Alegre, do Partido Liberal, de centro, e Mário Ferreiro, da Frente Avanza País, e Aníbal Carillo, da Frente Guaçu, ambos de esquerda. Apoiado pelo ex-presidente Fernando Lugo, que sofreu um impeachment aprovado pelo Congresso em junho do ano passado, de acordo comas normas constitucionais do país, Carillo ficou em quarto lugar no pleito, com 3,3% dos votos.
A vitória de Cartes representa um tremendo revés para a tríplice aliança, formada por Brasil, Argentina e Uruguai. Numa manobra casuística, os três países, liderados pelo Brasil, impuseram ao Paraguai a suspensão do Mercosul após o impeachment de Lugo, sob a alegação de que foi um “golpe de Estado”, e aproveitaram a oportunidade para aprovar a toque de caixa a adesão da Venezuela ao bloco, que ainda não havia sido referendada pelo Congresso paraguaio.
Embora a tríplice aliança tenha se apressado em abrir o caminho para a volta do Paraguai ao Mercosul, é certo que Cartes será um elemento estranho em meio ao “bolivarianismo” que tomou conta do bloco depois que a esquerda assumiu o poder nos quatro países membros – agora, cinco, com a entrada da Venezuela – a partir dos anos 2000. Afinal, foi o Partido Colorado de Cartes que liderou o impeachment de Lugo, com o apoio decisivo do Partido Liberal, que fazia parte da coalizão do governo.
Se havia a expectativa de que a punição imposta ao Paraguai pudesse ajudar o partido de Lugo a voltar ao governo nos braços do povo, o tiro saiu pela culatra. Com a vitória de Cartes, o Paraguai se torna mais um país do continente a rejeitar o receituário bolivariano, em suas diferentes colorações, ao lado de Peru, Colômbia e Chile. Depois da vitória apertadíssima do chavista Nicolás Maduro na Venezuela, sob a acusação de fraudes eleitorais, que levaram o Conselho Eleitoral do país a determinar a recontagem dos votos, a ascensão de Cartes é mais um sinal de que o ciclo de governos de esquerda na América do Sul pode estar se esgotando.
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